Edward Alexander Crowley, mundialmente conhecido como Aleister Crowley, foi um influente ocultista inglês nascido em 1875, responsável pela criação da filosofia Thelema, cujo princípio é “faze o que tu queres, pois é tudo da Lei”. Não por acaso, a frase é a mesma do refrão de Sociedade Alternativa, lançada em 1974 por Raul Seixas e Paulo Coelho.
Isso porque, naquele período, a dupla se envolveu com uma ramificação brasileira da Ordo Templi Orientis (O.T.O.), organização ocultista reformulada pelo próprio Aleister Crowley e dedicada a propagar o chamado Livro da Lei. Esse fato explica a influência da filosofia Thelema nas composições de Raul Seixas e Paulo Coelho nos anos 1970, sendo a mais perceptível delas no disco Novo Aeon, de 1975, mesmo ano em que foi oficialmente fundada no Brasil a primeira organização thelemista que se tem notícia: a Sociedade Novo Aeon.
O próprio Raulzito declarou que o LP Novo Aeon “é todo em cima do Livro da Lei” e, além disso, algumas faixas desse álbum foram compostas em parceria com o thelemista Marcelo Motta, membro de seitas ocultistas, idealizador da Sociedade Novo Aeon e instrutor de Paulo dentro da O.T.O. Por isso há canções no álbum que pregam o amor livre (A Maçã) e questionam a visão cristã de Lúcifer (Rock do Diabo), preceitos difundidos dentro da organização.
Já Sociedade Alternativa foi composta a partir do Liber Oz, um livreto de 1941 de autoria de Aleister Crowley considerado a declaração thelêmica dos direitos do homem e da mulher. É justamente essa publicação que Raul Seixas sempre lê ao público nas execuções ao vivo da música. Na canção A Lei, de 1988, o roqueiro gravou o Liber Oz na íntegra.

Lei da Vontade
De modo simplista, a Lei de Thelema pode ser explicada como Lei da Vontade, sendo resumida ao “faze o que tu queres, pois é tudo da Lei”. No entanto, segundo essa filosofia, Thelema não é qualquer vontade ou desejo comum, de caráter hedonista, mas sim a Vontade da Vida ou Verdadeira Vontade, que sequer pode ser impedida. Essencialmente, seria o propósito de vida de cada um.
Bruxo
Crítico social, ocultista, enxadrista e adepto da “magia sexual” e do efeito místico das drogas, Aleister Crowley se rebelou contra o Cristianismo em pleno início de século XX. Não acreditava em Céu ou Inferno. Despertou a ira da Igreja e o repúdio de grande parte da população. Foi taxado como “o homem mais perverso do mundo” pela sensacionalista imprensa de seu tempo. Foi chamado de pedófilo, bruxo e satanista. Crowley parecia gostar da má fama e chamou a si mesmo de “A Besta 666”.
Mesmo sendo combatido pela sociedade de sua época, Crowley alcançou a redenção após sua morte influenciando gerações de escritores, músicos e cineastas, incluindo Jimmy Page, Alan Moore, Bruce Dickinson, Marilyn Manson, Kenneth Anger, David Bowie e Fernando Pessoa. Por sua importância, o “bruxo” inglês é uma das figuras na capa de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles.
Crowley deu o nome à sua obra de Magick, com k, para diferenciar de tudo o que já havia na época referente ao ocultismo. Por isso que a música Love is Magick, de Raul Seixas, é escrita desta forma. Inclusive, na versão lançada no álbum Documento, Raul canta “under will, love is the law”, fazendo referência a outra citação do Livro da Lei de Crowley: Amor é a Lei, amor sob vontade.
Apesar do caráter místico do pensamento de Crowley, a influência sobre a obra de Raul Seixas é, acima de tudo, filosófica. São poucas as músicas do roqueiro que abordam magia e religião. O que mais influenciou a discografia do cantor baiano foram os ideais libertários e de liberdade de Crowley, como prega a Sociedade Alternativa. E, ao contrário de Paulo, Raulzito nunca manteve vínculo com a O.T.O. ou com qualquer outra sociedade esotérica, preferindo sempre uma interpretação pessoal do pensamento do ocultista inglês e de outros filósofos, como o alemão Arthur Schopenhauer.