A música Gita, lançada em álbum homônimo no ano de 1974, é uma das mais emblemáticas músicas da parceria entre Raul Seixas e Paulo Coelho. Seu videoclipe produzido para o programa dominical Fantástico, da Rede Globo, foi um dos primeiros a cores da história da TV brasileira.

Sucesso desde seu lançamento, Gita alcançou disco de ouro em 1974 pela venda de 600 mil cópias. Foi regravada em inglês pelo próprio Raul (I Am) e lançada em 1987 no álbum Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!. Também foi regravada por outros artistas, como o grupo RPM, em 1992.

A origem da música, contudo, não é conhecida pelo grande público. Raulzito já disse em shows que a canção teria “sete níveis de entendimento”, embora não explicasse quais seriam esses níveis. Não é incomum atribuírem um significado romântico à música e até, infelizmente, alegarem que há “mensagens subliminares”.

No entanto, diferente do que pensam os fanáticos religiosos, Gita descreve “o encontro das pessoas com Deus”, como descreveu Paulo Coelho certa vez. Isso porque a música foi escrita a partir do livro sagrado hindu Bhagavad-Gita (canção do bem-aventurado), uma das principais escrituras sagradas da cultura da Índia e que compõe a principal obra da religião Vaishnava.

Segundo a tradição hinduísta, o Senhor Krishna teve que transmitir o Bhagavad-Gita ao Guerreiro Arjuna no campo de batalha de Kuruksetra. Arjuna estava muito angustiado porque teria de combater contra seus próprios irmãos, sua própria família. Nesse desespero, ele questiona: Quem é esse Senhor Krisnha que o faz lutar contra sua própria família? E o Senhor Krishna lhe responde. A resposta, como era de se esperar, é extensa. O livro todo conta a história desse diálogo.

Segundo consta, a composição começou com Raul, que cantou os primeiros versos para Paulo Coelho (Eu sou e luz das estrelas / eu sou a cor do luar / eu sou as coisas da vida / eu sou o medo de amar) e até teria dito que “coisas da vida” era apenas para dar a métrica e poderia ser alterado depois. “Não, ‘coisas da vida’ é ótimo”, respondeu o parceiro musical, dando continuidade na canção.

Veja abaixo um trecho do texto do Bhagavad-Gita, datado de 3 mil anos atrás:

(Cap. 10 – texto 16) Disse Arjuna: Por favor, fale-me detalhadamente de Seus poderes divinos pelos quais Você penetra todos estes mundos e mora neles. (…)
Responde Krishna:
(Texto 19) O Bem-Aventurado senhor disse: Sim, Eu lhe falarei de minhas manifestações esplendorosas, mas somente das que são proeminentes, ó Arjuna, pois minha opulência é ilimitada.
(Texto 20 em diante) Eu Sou o Eu, ó Gudãkesa, situado nos corações de todas as criaturas, eu sou o começo o meio e o fim de todos os seres. (…)
Ó Arjuna, dos sacerdotes saiba que Eu sou o principal, Brhaspati, o senhor da devoção. Dos generais, eu sou Skanda, o senhor das Guerras; e dos corpos d’água eu sou o Oceano. (…)
Dos purificadores, Eu sou o vento; dos manejadores de armar, Eu sou Ramã; dos peixes Eu sou o tubarão, e dos rios que fluem Eu sou o Ganges.
De todas as criações, eu sou o começo, o fim e também o meio, ó Arjuna
De todas as ciências, eu sou a ciência espiritual do Eu, e entre os lógicos, eu sou a verdade conclusiva.
Das letras Eu sou a letra A, e entre os compostos Eu sou a palavra dual. Eu sou também o tempo inesgotável, e dos criadores Eu sou Brahman, cujos muitos rostos viram-se para todos os lados.
Eu sou a morte que tudo devora, e Eu sou o gerador de todas as coisas ainda por existir. Eu sou as muheres, Eu sou a fama, a fortuna, a fala, a memória, a inteligência, a fidelidade e a paciência (…)

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