Sociedade Alternativa é conhecida nos dias de hoje como uma das mais célebres músicas de Raul Seixas e Paulo Coelho. Foi lançada no álbum Gita, de 1974, em plena Ditadura Militar e considerada a responsável pelo exílio da dupla aos Estados Unidos. No entanto, naquela época, Sociedade Alternativa foi mais do que uma mera canção subversiva.
A ideia de se criar uma comunidade alternativa ao Sistema ganhou força à medida que Raul e Paulo se envolveram com sociedades esotéricas e thelemistas no Brasil. Tanto que a Sociedade Alternativa foi criada sob a influência do ocultista britânico Aleister Crowley, fundador da filosofia Thelema e do pensamento “Faze o que tu queres, há de ser tudo da Lei”.
Já a letra de Sociedade Alternativa foi composta a partir do Liber Oz, um livreto de 1941 escrito pelo próprio Crowley e considerado a declaração thelêmica dos direitos do homem e da mulher. É justamente essa publicação que Raul Seixas fazia questão de ler ao público nas execuções ao vivo da música.
O embrião da Sociedade Alternativa foi a Fundação Krig-Ha, uma organização que, conforme o próprio Raul explicou em entrevista para a o jornal O Pasquim, em 1973, se dedicava a “promover acontecimentos”. Dentre eles, a passeata Ouro de Tolo, realizada no Rio de Janeiro, e o próprio LP Krig-Ha, Bandolo!, além da marcante temporada de shows que o roqueiro realizou naquele ano.
Até que, em 10 de dezembro de 1973, a Sociedade Alternativa foi oficialmente fundada como uma entidade civil de caráter amador e beneficente, tendo Raul Seixas e Paulo Coelho como sócios-fundadores e responsáveis. A sede provisória era o próprio apartamento de Raulzito, na Avenida Epitácio Pessoa, na capital fluminense.
No papel, a finalidade da Sociedade Alternativa, registrada em cartório no dia 17 de janeiro de 1974, era a promoção de espetáculos teatrais, seminários, programas de televisão, filmes, edição de livros e outras produções artísticas e culturais. Para isso, contariam com a adesão de sócios-artistas, segundo consta em seu estatuto.
Raul costumava dizer em entrevistas que a Sociedade Alternativa pretendia construir, com o auxílio da seita thelemista a qual ele e Paulo eram orientados, uma comunidade alternativa em Minas Gerais, chamada Cidade das Estrelas. Como se sabe, a ideia não prosperou, muito provavelmente em razão da pressão do Governo Militar na época e do exílio ao qual Raulzito e Paulo se submeteram.
Após o retorno ao Brasil, a Sociedade Alternativa foi dissolvida. Um documento de 17 de setembro de 1974 oficializou o ato, porém, foi escrita uma segunda ata de dissolução em 23 de março de 1976, sendo essa encaminhada ao cartório. A averbação ocorreu um mês depois.
Movimento
Embora a Sociedade Alternativa, como entidade civil, nunca tenha funcionado e tenha acabado dissolvida em 1976, o movimento continuou. Aliás, seu registro oficial talvez seja o capítulo menos relevante de sua história. Isso porque a ideia principal era propor uma revolução interna em cada ser humano. Como Raulzito declarou certa vez:
A Sociedade Alternativa era um movimento de pessoas para consigo mesmas, primeiro que tudo. É o egoísmo, mas o egoísmo no bom sentido. O egoísmo de você saber que é diferente de todo mundo e que todo mundo é diferente de você. É você ter sua própria identidade, fazer o que você quiser. E nada errado. Todo homem tem direito de mover-se pela face do planeta sem usar passaporte. Todo mundo tem direito de pensar o que quiser, todo homem tem direito de ver e de escrever o que ele quiser, porque você é diferente, você é a única coisa que você tem na vida. A sua própria vida é a única coisa que você tem, o resto você não leva nada. É o individualismo. Todo mundo embaixador do seu próprio país, vamos dizer assim.
Simbologia
O símbolo da Sociedade Alternativa é uma chave, que aparece no centro do selo. Ela é uma adaptação Cruz Ansata (ou ankh), um hieróglifo egípcio antigo que representa a vida eterna. A adaptação está nos dois pequenos degraus na parte inferior, dando a forma de uma chave. Ou seja, a chave da Sociedade Alternativa seria, a “chave que abre todas as portas”, a chave da Vida.
No selo da Sociedade Alternativa também aparece a inscrição Imprimatur, de origem latina. Em tradução livre, significa “imprima-se”, isto é, pode ser impresso. O Imprimatur era uma autorização concedida por autoridades eclesiásticas e antigos censores para publicações que seguiam os padrões pré-determinados pela Igreja Católica.
E a Sociedade Alternativa era autorizada por Dom Raul Seixas e Dom Paulo Coelho.