Raul Seixas não sabia, mas naquela tarde de 1º de dezembro de 1985 subiria pela última vez em um palco para uma apresentação solo. O cenário desse episódio foi o Estádio Lauro Gomes de Almeida, em São Caetano do Sul, no ABC Paulista (hoje, Estádio Municipal Anacleto Campanella).
Entre os músicos que tocaram com Raul neste dia, estavam o baixista Nenê Benvenuti (Os Incríveis) e guitarrista Tony Osanah. O setlist foi o seguinte:
Abertura (Sociedade Alternativa)
Rockixe/Al Capone/Como Vovó Já Dizia
Aluga-se
As Minas do Rei Salomão
Metamorfose Ambulante
Rock das ‘Aranha’
Ready Teddy
Maluco Beleza
Mamãe Eu Não Queria
Rock do Diabo
O Trem das Sete
Sociedade Alternativa
Foi, certamente, um show inesquecível. Começou com um atraso de duas horas, após o público quebrar o alambrado, invadir o campo e cercar o palco. Raul surgiu dentro de um Fusca branco, que adentrou o gramado, e teve dificuldades para passar entre os fãs em polvorosa.

Raulzito não estava em condições de cantar sequer uma música inteira. E não cantou mesmo. Esqueceu as letras, deu trabalho para a banda. Não reconheceu nem Maluco Beleza, quando Tony Osanah tocou os primeiros acordes. Mesmo assim o público foi ao delírio e cantou junto cada sucesso de Raul.
Foram cerca de 50 minutos de apresentação, com direito a alguns palavrões, gozações com a banda e a proclamação de que “o Diabo era o pai da Nova República”. Afinal, o Governo Sarney tinha começado naquele 1985. Durante O Trem das 7, admitiu: “quando a gente compõe uma música e está de saco cheio de cantar, a gente canta outra letra”.

Ao final, durante Sociedade Alternativa, não leu a famosa introdução do Livro da Lei, de Aleister Crowley, mas, sim, o texto Ser Governado, do anarquista Pierre-Joseph Proudhon. Aquele mesmo, que deu origem ao Carimbador Maluco. Depois desse show, Raul Seixas só voltaria aos palcos ao lado de Marcelo Nova, em 1988.